L. Cohen: O Poeta
No preciso momento em que o concerto de L. Cohen, que tanto admiro, se instala no meu sentir, pergunto-me num desafio:
«porque estou tão fragilizada?...»
Faço um movimento e a música deixa de existir como manifestação objectiva da minha sensibilidade para regressar a coisa disponível, objecto que se pode ou não pôr em acção … Um disco.
Um disco simplesmente.
Uma mercadoria. Uma coisa.
Cúmplice de mim própria, estrangulo a voz de Cohen, corto-lhe a vida.
A vida não é apenas escutá-lo religiosamente.
Não sei porquê, o que em mim sente recusa-se a sentir, o que em mim pensa impõe-se-me como pensamento.
Não sei se a grandeza é pensar, se sentir.
Os dois modos, certamente.
Vencida, domada perante os acordes finais, estremeço e vibro.
Depois, um silêncio que se prolonga na noite cálida.
Cohen esvanece-se, silencia-se.
Um dia destes desafiá-lo-ei a regressar ao meu convívio.
[ Musica de Fundo: «Dance Me To The End Of Love» ]