terça-feira, janeiro 15, 2013

Gato Barbieri - Europa




A imortalidade do Amor



« Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura. »

[ Herberto Helder in, "Ofício Cantante" ]



Dizem que o Amor morreu às 7 horas. Dizem.

Não sei se o amor fenece ou se simplesmente se transmuda.
Sei que são vários os instrumentos de medição mas nenhum mede a intensidade do Amor, nem a da dor.
Sei que o Amor não se racionaliza nem se objectiva.
Sente-se.
É tudo.

Tem uma linguagem e uma forma singular de se expressar.
É um íntimo processo de fusão entre o gesto e a palavra que não se inibe em se mostrar à pessoa amada.
É um crepitar de emoções que transbordam em línguas de fogo vivo, atiçadas pelo vento da paixão.
Surge, furtivo como uma vertigem, embrulhado num plácido sorriso, transportando gestos de harmonia cálida, exibindo toda uma ternura no olhar, que ofusca o temor enovelado nos recantos da alma.

Dizem que o Amor morreu às 7 horas. Dizem.

Discordo.

O que morre é o amor singular quando a alquimia do tempo o transmuda e o vento sibila nas orlas do deserto, transportando-o em poalha comprimida. O encanto evanesce-se e a sensibilidade cristaliza-se, embotada.
Quando assim é, a vontade de calcorrear estrelas e planetas encavalita-se na acomodação e no marasmo, e deixa escorrer da face um silêncio mudo e liquefeito que afivela o coração, acorrentando os gestos. O olhar, arrefecido, transporta uma opacidade de estátua.

O Amor é um sentir solitário. Poderoso. Daí tão temido.
Não precisa de outro amor para brotar.
É independente, selvagem.

Existe em todos nós essa fonte secreta de água viva que nos sacia e que tudo revolve. Que nos faz descobrir reservas de coragem para novos recomeços.

E tu sabes, meu amor. Sabes que assim é.
Só não o sabe quem o não viveu.
Só não sente tais sinais, quem não possui o dom da presciência amorosa.




segunda-feira, janeiro 14, 2013

Opacidade


[ Salvador Dalí ]

Há toda uma tristeza inútil no seu olhar
colhida na seara da desilusão, quando os
raios de sol abandonam o campo dos sonhos e
Os ventos nocturnos fustigam os grãos da esperança.
O bater de pálpebras afasta as nuvens da descrença
que a ausência do sorriso acentua,
enquanto o olhar vagueia pelo campo onde o amor
Se vestia de verde e se deitava nos lençóis vermelhos
Da paixão.
Assiste ao fenecer do desejo do amante que se esboroa
Nos dedos do silêncio.