"Mestres"
Desde Setembro que é insuportável estar em casa devido ao barulho das obras que estão a decorrer no andar por cima do meu.
Isto trouxe-me à mente os« Mestres».
Não. Não me refiro aos detentores deste grau académico, nem aos mentores intelectuais ou religiosos e também não aos mestres de música, de pintura... de todas as Artes em geral.
Não.
Refiro-me mais «comezinhamente» ao «colectivo» mestres:
Pedreiros, carpinteiros, electricistas, canalizadores e «ofícios correlativos».
Inevitável é nós precisarmos dos serviços daqueles profissionais, por mais que se tente passar sem eles.
Quando a coisa se torna inadiável, metem-se «empenhos» para arranjar o contacto do «mestre» pretendido.
A primeira "estação do calvário" começa então.
Vamos imaginar um quarto com paredes para pintar; remodelar o tecto e alterar a iluminação.
Chega o «mestre», mostramos o que há para fazer e, prudente e ingenuamente, perguntamos quanto demora e quanto custará.
Faz umas medidas, rabisca umas coisas num papel e lá diz mais ou menos quanto irá custar o material e que não vai levar caro nem muito tempo. Virá um ajudante e tal e quê e é num "fósforo" que a obra fica pronta.
Quanto ao custo a resposta é invariável: « Não se preocupe..»
Quanto ao inicio é sempre numa« 2ª feira.»
Só que omitem o mês e o ano.
Segunda "estação do calvário": parvamente, aproveita-se o domingo seguinte e esvazia-se o quarto que vai ser pintado na tal 2ª feira, "sem falta".
Chegada a 2ª feira nada de mestres.
Seguem-se outras tantas mais... sem novas nem mandados.
Entretanto a mobília do quarto entope o corredor, a sala..
Terceira "estação do calvário":
Telefonemas, mais telefonemas, empenhos renovados e um belo dia (nunca à 2ª feira) lá aparecem os desejados mestres.
Vem o pedreiro e o ajudante e toca a picar, a raspar, a fazer um barulhão e uma poeirada de entupir os pulmões.
Quarta "estação do calvário":
Conciliar electricistas e pintores.
Um põe os tubos e fios, demorando dias a fazer o que podia estar pronto em horas e o outro vem pintar o tecto, as paredes..
Durante esse tempo, o dono do quarto dorme no sofá, tem a roupa fora do sítio e os nervos também..
Os "já agora…" fazem parte da quinta "estação do calvário".
- Senhora, "já agora" o que ficava bem eram umas luzes "daquelas"..
E vêm as luzes e mais uns tantos "já agoras" e mais umas tantas "estações do calvário".
Na cabeça, a caixa registadora "tilinta" só a dar saídas..
Enfim. Obras em casa são "tirocínio" para a santidade (perdoem-me a heresia..)
Se tudo ficar nos "trinques" é uma felicidade, porque, infelizmente, são raros os bons profissionais.
Se a formação dada pelas Escolas Profissionais desse direito ao título de "licenciado" talvez fosse mais procurada pelos estudantes que vão para as Universidades tirar cursos absurdos que conduzem direitinhos ao desemprego.
Um bom canalizador é mais útil que um "gestor" e ganha o que quer!
Pois é. Se os visados lerem isto, estou "feita"..!