segunda-feira, setembro 06, 2010

Inês Lembrando Pedro





«Em quem pensar,agora,senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.

É verdade que te podia dizer:
"Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem,sermos o que sempre fomos,mudarmos
apenas dentro de nós próprios?"

Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.

Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo,
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,

mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo,para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.

Como gosto,meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos,
e o teu rosto de água fresca que eu bebo,
com esta sede que não passa.

Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim,
até ao fundo do mundo que me deste.»


[Nuno Júdice]

(In Pedro Lembrando Inês)