O General e o Juiz
Li num matutino que no passado dia 18, a socialista Michelle Bachelet cumpriu 100 dias do mandato como Presidente do Chile.
Pela 1ª vez na história desse país uma mulher está a ocupar o cargo máximo. A chefia do Estado.
Esta notícia fez-me recordar Luís Sepúlveda.
Continuará satisfeito com a sua eleição ou ela não significará mais que a continuidade das políticas desenvolvidas pelo anterior Presidente, Ricardo Lagos?
Algo estará a mudar a sério naquele País tão sofrido?
O Chile sempre me encantou.
Tudo o que a ele diz respeito me comove.
Enternece-me Salvador Allende e o seu idealismo.
Enraivece-me Pinochet e o seu homicida despotismo.
Choro ao ver « Estado de Sitio» do Costa Gravas.
Delicio-me com a escrita de Luís Sepúlveda.
Baseando-se na sua experiência de vida ( tortura às mãos da ditadura; exílio forçado; período de guerrilheiro na Bolívia; vivência no seio de uma comunidade indígena; etc ..) escreve «histórias» comoventes, onde relata a sua visão da realidade.
A sua literatura é uma mescla de oralidade, arte, provocação ...
Propõe-nos, de um modo inteligente, uma partilha de situações e contradições.
Por norma as suas personagens são ingénuas e românticas.
Quase que anti-heróis.
«O Velho que lia Romances de Amor» é exemplo disso.
Um livro belíssimo.
É uma «Ode Poética» à relação do Homem com a Natureza.
Ele parte da relação que teve com o ambientalista brasileiro Chico Mendes, para assim narrar os vários temas.
Nesta obra é abordado o conflito, versus respeito, do Homem pela Natureza.
Tema que o escritor não se cansa de focar ao longo de toda a sua bibliografia.
A «História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar»; o «Diário de um Killer Sentimental»; «Patagónia Express»; «Nome de Toureiro» entre tantos outros, transporta-nos a «viagens» fantásticas pelo seu imaginário tão rico e sensível.
Um dos que mais me marcou foi «O General e o Juiz».
É uma compilação dos seus artigos jornalísticos durante o período em que Pinochet esteve detido em Londres, antes de ser extraditado para Espanha para ser julgado.
Mas Chile também é (e sempre será) Violeta Parra e Neruda.
Uma curiosidade:
A razão que levou Neruda a adoptar esse nome tem a ver com Jan Neruda, poeta checo do sec. XIX.
O seu verdadeiro nome era Neftalí Ricardo.
( Em Praga há uma rua que se chama: Nerudova. Nada tem a ver com o Pablo, mas sim com o Jan. )