Após um dia de trabalho, Alexandra regressava a casa, ansiosa por
«estar » com Carlos.
Trazia-o, como sempre, no pensamento.
Apetecia-lhe escutar a voz... a sua voz macia de timbre suave e quente..
Indecisa, não sabia se havia de lhe telefonar ou não.
Eis que toca o telemóvel.
Não cabia em si de contente. Era ele.
Notou que algo se passava.. o seu tom de voz estava diferente. Trazia a frieza das noites invernais.
E as suas palavras.. um gelo que, aos poucos, se lhe entranhou nos ossos, petrificando-a..
A alegria esvaneceu-se quando o ouviu pedir-lhe... « um tempo.»
Queria... «um tempo!!»
Se a conhecesse bem saberia que não lhe daria tempo.
Que o tempo que ele necessitava para se encontrar, seria o mesmo que ela necessitaria para o esquecer.
Era... «um tempo» sem retorno.
Alexandra disse-lhe que, quando se ama, não há «tempos» nem pausas.
A vida não tem desvios... nem demoras..
Ou se luta para manter acesa a chama... sem tempos, sem separações...
Ou não se ama... e seguem-se caminhos diferentes..
Apesar das palavras dela... Carlos quis... «o tempo».
Ela fingiu que lho dava... sabendo que estavam a perder-se de si próprios.
Analisando em retrospectiva, Alexandra sabia que tudo já estava a terminar.
As mensagens, outrora enviadas em catadupa, tinham rareado, os telefonemas quase que desapareceram e a doçura da sua voz transformara-se em indiferença..
Ele não sabia explicar... a confusão, a ausência, a inércia... que sentia..
Um dia...
Carlos tentou regressar..
Alexandra recebeu-o... sabendo que o tempo tinha feito danos..
Era impossível o retorno aos momentos... em que os seus olhos prendiam-se nos dele como duas gotas de orvalho presas numa folha..
Em que o sopro da sua voz a fazia estremecer de desejo... de paixão...
Em que acreditava no que lia na profundeza do seu olhar..
No seu íntimo, Alexandra sabia que já não eram presente, mas sim um passado que teimosamente se queria prolongar...
«O tempo»...
Levou o tempo..
Em que os silêncios eram cúmplices e falavam...
Em que os corpos tremiam de paixão na ânsia da entrega..
Em que o toque dos dedos arrepiava todo os seus seres...
Como a água dos rios... leva outras águas, até nada ficar de ambos.