terça-feira, abril 17, 2007

Momento




"Entrega-se ao dia que nasce, ouvindo
as aves que emergem da névoa com o seu canto;
e a maré de sensações que acompanha
a madrugada sobe pelo seu corpo,
submergindo o lodo dos sonhos
com a espuma luminosa do primeiro
sol. Mas reza ainda ao deus
que se perdeu na areia solitária
do tempo; e as suas pálpebras caídas
guardam as imagens que pertencem
à noite, como se precisasse delas,
ou como se esperasse que alguém abra
a janela, e lhe diga ao ouvido
as palavras limpas da bruma matinal,
libertando-lhe as mãos para o tecido
do amor."


[ Nuno Júdice ]



Envolve-me no anel dos teus braços...
Em silêncio.
Deixa que o negrume do medo se esfume…
E aves azuis reapareçam no céu raiado de roxo.
Em quietude de estátua, enconcho-me no teu peito...
E os teus olhos conduzem-me à fronteira do país dos sonhos.
E nesse encontro de olhares...
Resumir-se-ão todos os silêncios e todas as frases..

domingo, abril 08, 2007

Fantasia




Aguardo-te.
Não demores muito.
Sabes bem que não gosto de, quando a noite chega, não te ter em casa.

Fiz arroz de pato para o jantar.

Coloquei na mesa a toalha que me compraste na tua última viagem a Veneza. A de bordado de Torcello.
Lembrei-me também de colocar os candelabros de prata que compramos em Marraquexe e que causaram um ligeiro arrufo entre nós. Recordas-te?
Consideravas um exagero o preço que me pediram por eles.
Olvidaste o quanto eu gosto de peças antigas e que, se entendo que valem o preço que me pedem, compro.
Nunca consegui perceber aquela tua atitude.
Continuo a pensar que a razão do teu amuo nada tinha ver com o preço dos candelabros, mas sim porque não gostaste do modo como o marroquino me mirava.
Sei que te custa admitir que és ciumento e zeloso de mim. Contrariamente ao que pensas, isso encanta-me.
Também sou ciumenta de ti.

Hoje vamos jantar nos pratos do serviço Rosenthal que compraste na Baviera.
Sei o quanto temes que os parta. Terei cuidado.

Fiz a tua sobremesa preferida:
Mousse de Manga.

Comprei também um vinho.
Sei que adoras um bom vinho às refeições. «Quinta do Roriz», tinto, reserva.
Espero ter acertado. Sabes que nada percebo de álcool.

Questionarás o porquê de tudo isto, hoje.
Por nada em especial e por tudo em especial.
Cada noite que te tenho em casa é sempre especial.
Tenho-te.
Basta isso para ser especial.

Não te demores. Vem.
Cada segundo que aqui não estás, é mais um segundo que estou sem ti.

Beijo-te