quinta-feira, novembro 16, 2006

Futebóis



A televisão tem destas coisas: a oferta de vários canais poderia supor variedade de programas mas na prática não funciona assim.
À mesma hora, noventa por cento “dão” novelas, a outra hora, todos “dão” programas infantis, mais tarde os tais “talk-shows” trazem sempre os mesmos convidados do género « ora viras tu, ora agora viro eu » ... Só a estação é que muda, mais nada.
Há sempre, também, futebol para ver.
Ou é directo, ou diferido, ou é cá em Portugal ou no estrangeiro.
Uma oferta pródiga!
Lá fico a ver futebol.

«Adoro» o que dizem antes dos jogos.
Vem, por exemplo, o treinador do Lazio de Roma responder ao repórter, acerca do jogo que a sua equipa vai disputar com o Udinese:
“ Vai ser um jogo muito difícil. O nosso adversário possui um bom plantel mas tenho muita confiança nos meus jogadores e vamos jogar para a vitória, que é o único resultado que nos interessa.”

Mas se for o treinador do Marrazes, cuja equipa irá jogar com o Vilanovense, esse já diz assim:
“ Vai ser um jogo muito difícil. O nosso adversário possui um bom plantel mas tenho muita confiança nos meus jogadores e vamos jogar para a vitória, que é o único resultado que nos interessa.”
Claro que se forem os treinadores do Manchester, do Paris St. Germain ou do Real Madrid irão dizer as mesmas coisas nas respectivas línguas.

Depois do jogo a cena repete-se. Os “ comunicadores” de serviço vêm comentar o jogo.
O ganhador:” Começo por dar os parabéns ao adversário, que foi um digno vencido, bateu-se muito bem mas a nossa humildade, o nosso querer e a nossa capacidade conduziram-nos à vitória justa, que era o nosso objectivo”.
O perdedor: “Começo por dar os parabéns ao adversário, que foi um digno vencedor, a minha equipa jogou bem, mas falhou no capítulo da finalização. Agora vamos continuar a trabalhar.. etc.. etc..”
Trabalhar! Muito me intriga este «trabalho»!

Continuando... vamos ao jogo.
Se não joga o “ meu “ Benfica, escolho uma equipa para “torcer” por ela e, ao princípio, está tudo bem.
Mas depois vou “enchendo” com os comentadores. Três, senhores, três!
E falam, falam, dão a táctica, a teoria, a filosofia, dizem tudo menos aquilo que era preciso dizer: ajudar o telespectador.
Mas não: são uma matraca nos ouvidos e referem bem o que estamos a ver: que o Benfica veste de encarnado e o Sporting de verde. Ora bolas!

E os dirigentes? E as suas declarações?
E as brigas, o tom, os berros?
Apetecia-me enviar-lhes um «Manual de Boas Maneiras» mas como não sei se eles sabem ler, poupo-me a essa maçada.

E o jogo?
Bem instalada, toca a apreciar um jogo de futebol do campeonato nacional.
Para já, é precisa muita paciência até haver uma jogada jeitosa e, entretanto, vou fazendo as minhas reflexões.
Por exemplo:
Gostava que nas camisolas dos jogadores estivesse escarrapachado o seu ordenado.
Depois “marco” um jogador e tento contar as vezes que toca na bola. Quando “toca”- ao fim duma eternidade – quanto custou aquele pontapé?
A certa altura, é natural que o atrito faça das suas e a bola se ressinta. É essa a explicação que encontro para o receio que têm alguns jogadores mais avisados em tocar-lhe. Está em brasa!
Outros, mais delicados, fogem de lhe tocar para dar oportunidade ao parceiro.
Também me ocorre muita vez que os campos de futebol, em Portugal, têm medidas diferentes das do estrangeiro. São muito mais pequenos. Por isso é que as bolas estão sempre a sair do terreno.
E as balizas? Dada a dificuldade de marcar golos é de supor que tenham as dimensões das do Hóquei em Patins!
Igualmente era preciso acabar com o mau hábito de encerar a relva. Já viram como os nossos jogadores estão sempre a escorregar e a cair? Coitados!

Mas, como diz o outro: “ o futebol é um mundo”. Claro que é:
- criou uma língua própria, o «futebolês».
E são milhões os que a falam.
- alimenta jogadores, treinadores, preparadores, médicos, massagistas, dirigentes, roupeiros .. etc .. etc.
- tem direito a uma imprensa própria. Três jornais diários, dois canais da especialidade e tempo de antena em todos os outros.
- fornece assunto diário para conversa, convívio e muitas mais coisas.

É um “desporto” democrático. Assim rendo-me.
Viva o futebol!