quarta-feira, março 06, 2013

Sentidos




A luz desmaia na noite e a cama, onde o
amor se deita, alonga-se na medida da tua ausência.
Os sentidos, retidos, ganham vida e impõem-se para
lá do que a memória conserva.
Persistem e ganham vida.
Prolongam-se no etéreo, vívidos.
E o tempo, é o lençol vazio onde mais nada cabe.
Como se estivesse cheio. Cheio de ti.
E entre passado e futuro, cheiro a almofada da memória
e sinto os teus dedos de mel a percorrerem-me a pele, por
entre sussurros de cetim.
O calor do teu corpo envolve-me com o seu hálito de fogo,
ateando línguas de paixão que permanecem na alma com a
sua inteira doçura.
E as palavras saem-te húmidas dos lábios quentes.
Por entre a florescência do desejo, abro a gaveta onde
guardei os teus olhos, e dois sóis vêm ao meu encontro
para me iluminar a noite e beijar-me o rosto com todo
o seu fulgor.
Como se o amor fosse o resultado dessa troca de olhares
longínquos, suspensos na noite, por entre sombras de saudade
e o corpo rompesse a ausência do corpo com os dedos da madrugada,
ao ritmo da música lenta da tua respiração.