Solitude
Embrenho-me na cidade.
Sentada num café, olho o mundo que me rodeia enquanto a luz ainda cintila.
Apetecia-me deambular ao acaso, sem tempo ou horas, sem metas ou rumos.
Como se fosse um romano do fim do Império.
Mas o império que me rodeia é o do trivial.
Uma espécie de força cilíndrica que tudo compele.
Não vejo alegria, nem revolta. Vejo a decrepitude de quem arrasta nos pés o peso dos dias.
Sou uma solitária. Sei-o.
Acompanha-me este sentir silencioso, transformado, por vezes, em palavras.
Muitas delas despojadas do seu real significado.
Jogo de metáforas para transmitir o invisível que emudece no meu peito.
Gostava de conseguir comunicar o frenesim que perturba a unidade do meu espirito.
Os pássaros esvoaçam para longe. Sigo-os com o olhar.
Gostava que alguns se aproximassem e me cobrissem com pétalas de flores e beijos.
Que atravessassem a névoa que me habita e a levassem nos seus bicos.
Volto a pensar Álvaro de Campos.
Como sinto a «grande mágoa de todas as coisas serem bocados.»